São contraditórios os sentimentos que me movem neste final de época, fundamentalmente quando olho para trás e me lembro do que foram os objectivos, a ambição, as dificuldades e os problemas por que passámos. Todavia, e desde já, cumpre-me dizer que farei referência, única e exclusivamente, a factos que são do conhecimento geral e nem por uma vez trarei assuntos internos do clube para aqui. Nunca o fiz e não o farei. O balneário é um local "sagrado" que não se compadece com vir para o domínio público trazer assuntos que devem nascer e morrer lá dentro.
A época começou com ambição redobrada, não só porque mantínhamos a estrutura que tão bons resultados tinha dado nos 2 anos anteriores, como pelo facto de termos apostado numa equipa técnica com provas dadas a nível distrital. Sabíamos que vínhamos de uma 2a volta menos conseguida em termos pontuais, mas que reuniamos as condições para andarmos nos primeiros lugares da tabela. Do ano anterior, tinham saído o António , o João Hélio e o David Nobre (g.r.), o Zé António, o Pedro Marta e o Juan (que também pouco contributo puderam dar no ano anterior, por variados motivos), tendo entrado o Vitor Hugo e o Luis (g.r.), o Georges, o Tiago, e mais tarde, o João Vitor e o Michael.
Começámos com duas vitórias importantes, empatámos em Chelo num jogo que esteve mais que controlado, mas perdemos em casa com o Real da Conchada por 1-2, numa partida que nos marcou pela negativa. O jogo da taça que se seguiu foi ganho sem grandes dificuldades mas à 5a jornada perdemos com o CRIA por 6-0, que determinou a saída do mister João Moura que no final da partida pediu a demissão do cargo de treinador. Disse-o na altura e repito: foi um prazer trabalhar com o mister João Moura, com quem mantemos uma boa relação, que não fica beliscada pelo facto de não ter conseguido passar a mensagem e de o grupo não ter assimilado bem os seus métodos de trabalho. Foram 6 jogos (mais 12 de pré-época) em que a equipa não correspondeu àquilo que se pretendia e que acabou no desfecho da saída do mister.
Com esta saída, e também como revelei na altura, eu e o Vitor Hugo fomos confrontados pela direcção e pelos jogadores da necessidade de assumir o comando técnico. Era algo que não fazia parte dos meus planos, não só por estar a trabalhar com a equipa feminina, mas essencialmente porque pretendia concentrar-me apenas em jogar futsal. A questão foi colocada de uma tal forma que não pude dizer não, apesar dos sacrifícios (a vários níveis) que isso acarretaria.
Ao assumir o comando técnico da equipa, tinha duas opções: ou continuava o trabalho, em termos de modelo de jogo e metodologia de treino que vinha sendo seguida, ou alterava de acordo com aquilo que são as minhas concepções de treino e de jogo, sabendo que, com isso, causaria alguma instabilidade de processos e de rotinas.
Arrisquei e alterei profundamente a maneira de jogar da equipa, em termos de posicionamento no campo, de envolvimentos ofensivos, bolas paradas, etc. Assumo, claramente, que, enquanto treinador, fui o principal responsável pela má ponta final de 1a volta, em que a equipa perdeu rotinas, qualidade, identidade. Fizemos um bom jogo com o bruscos, que empatámos, perdemos no Vilaverdense por 4-1, ganhamos ao Espariz e depois surge o jogo decisivo da época. Uma partida com o Alfarelense, que poderia determinar a nossa aproximação aos lugares da frente, empatamos 4-4 no último minuto e já a poucos segundos do fim, sofremos o 5-4. A equipa caiu muito animicamente e, aliado a isso, viu dois dos seus jogadores deixarem de dar o contributo à equipa: o Tiga, que saiu para a 3a nacional, e eu próprio que, após ter ponderado, não só em virtude de uma lesão, mas pelo cargo que assumi, decidi não acumular a condição de treinador-jogador. Já havia também saído o Tiago, pelo que a equipa, de um momento para o outro, perdeu 4 opções e ficou mais limitada, pois, jornadas mais tarde, o g.r. que havia iniciado a época a titular a deixou também de ser opção, com a agravante de ter caído muito animicamente, sobretudo após 3 derrotas consecutivas que fecharam a 1a volta: Alfarelense, Tocha e Vila Verde.
Ao virar para a 2a volta, e após 2 meses de trabalho, mesmo com todas estas condicionantes, sentia a equipa com capacidade de dar a volta à situação. estabilizámos emocionalmente, redefinimos objectivos e procurámos um modelo de jogo que se adaptasse às características dos jogadores e às necessidades da equipa. Passámos a jogar menos para as exibições e mais para o resultado, numa abordagem mais pragmática que se veio a revelar adequada em face do momento em que nos encontrávamos. Abdicámos do 4x0 e de uma pressão em zonas mais subidas do campo, uma vez que a maior parte dos golos tinham origem numa inadequada gestão da posse de bola, o que permitia que facilmente fôssemos surpreendidos em lances de ataque rápido. Passámos a adoptar o 3x1 como modelo padrão, baixámos as nossas linhas de pressão, enquanto abordagem preferencial do jogo, e passámos a interpretar melhor o posicionamento defensivo e as respectivas coberturas, com uma pressão muito intensa sobre o portador da bola.
Vencemos 2 jogos de seguida, Miro e U.Alhadense, mas claudicamos frente ao Chelo, no jogo em que criámos mais oportunidades ao longo da época, em que fomos melhores em todos os capítulos, mas fomos absolutamente ineficazes. este resultado, aliado à eliminação da taça frente ao mesmo adversário, voltou a criar muita instabilidade nos jogadores. Neste jogo de taça, falei, pela 1a e única vez ao longo da época, do comportamento da equipa de arbitragem, que foi mau demais para ser verdade, como foi reconhecido pelos próprios elementos do Chelo. Disse-o na altura e mantenho: adoptámos durante toda a época, uma postura de civismo, de respeito, dentro e fora do campo, por todos os adversários e equipas de arbitragem, ao ponto de, provavelmente, termos sido a equipa com menos expulsões da distrital. Mas não nos queiram atirar areia para os olhos e justificar insucessos com os árbitros. No final, a classificação coloca-no lugar que merecemos e, provavelmente, quem mais se queixa dos árbitros é quem mais os pressiona e tira partido das suas actuações. Nós, seguramente, temos tido fama. O proveito vai ficando para os outros.
Entramos na recta final a precisar de pontos, mas com a conseciência de que vinhamos fazendo jogos de qualidade e lutando pelos 3 pontos do 1.º ao último minuto, mesmo com todos estes revezes e problemas. Perdemos 5-4 com o CRIA numa partida que virámos de 1-3 para 4-3, mas em que a ansiedade nos prejudicou nos instantes finais e partimos para a fase decisiva do campeonato com o pior calendário de todos, com jogos com os então 4 primeiros. Empatamos com Bruscos, empatamos com Vilaverdense, ganhamos em Espariz e eis que a 3 jornadas do fim estávamos, praticamente, dependentes de nós. Todavia, num jogo em que tivémos tudo para ganhar, perdemos (de novo) pela margem mínima frente ao Alfarelense por 1-0, resultado que tornou hercúlea a tarefa da manutenção.
Mérito, total, para os atletas. Acreditaram na mensagem que lhes passei, acreditaram que iríamos atingir os nossos objectivos, mesmo no cenário mais dificil. Duas vitórias nos últimos dois jogos selaram aquilo que muitos não pensaram ser possível, acabando por fazer mais pontos nesta 2a volta que o ano passado, e sendo inclusivamente a 5a melhor equipa da 2a volta.
Tivémos, durante a época, de lutar contra muitas adversidades. Inclusivamente, lutar contra nós próprios, pois durante algum tempo fomos nós o nosso principal adversário. A partir da altura que o grupoo se uniu em torno de um objectivo comum, tudo se tornou mais fácil e a manutenção acaba por ser um prémio pela dedicação que jogadores, adeptos e direcção tiveram ao longo de toda a época. Inexcedíveis.
Altura de dizer apenas mais duas coisas.
É importante que o clube reflicta sobre esta época no sentido de não se repetirem os erros que cometemos. A Prodeco tem uma história e uma estrutura física e humana que, contrariamente ao que sucede com muitos outros clubes a nível distrital, até com mais nome, não coloca o seu futuro em causa pelos resultados desportivos. Caso tivéssemos descido, a Prodeco continuaria o seu trajecto, prova de que a instituição tem um projecto definido que não passa pelo resultado a curto prazo.
Por último, despedir-me das funções de treinador dos seniores masculinos, com a consciência de, mais uma vez, ter prestado um serviço importante ao clube e de o ter ajudado a atingir os objectivos para esta ápoca. Já o disse, e assumo aqui, que não voltarei a assumir a condição de treinador-jogador, pelo que este é, verdadeiramente, um ciclo que se fecha. Neste momento, a palavra gratidão surge como a que resume o meu estado de espírito, em relação à direcção (desde o Presidente a todos os directores), adeptos, equipa técnica (na pessoa do Vitor Hugo) e, fundamentalmente, a todos os jogadores, pela dedicação, companheirismo, cumplicidade e amizade. A todos, sem excepção: obrigado.
1 comentário:
Maratona Futsal Feminino, dias 5 e 6 de Julho em S. Pedro do Sul - Viseu. Inscrição: 85€. 1º prémio 400€, 2º prémio 200€, 3º prémio 100€. Bar de apoio e sala de repouso. Mais informações em http://unidosfutsalfeminino.blospot.com ou através do email: unidosfeminino@gmail.com
Enviar um comentário